Na rua Coelho da Rocha, Campo de Ourique, Lisboa, área residencial perto do Cemitério dos Ingleses e do Jardim da Estrela, fica a Casa de Fernando Pessoa, onde ele viveu seus últimos 15 anos. A vizinhança tem ar de bairro, com moradias e comércio simpáticos. A rua abre-se após um pequeno largo e é convidativa: suficientemente estreita para não ter trânsito acentuado, suficientemente larga para ter movimento e estacionamento.
A casa é discreta, branca, com porta central e muitas janelas. Seria mais uma entre tantas, se a fachada não estivesse entremeada por textos do autor. Palavras que transbordam das entranhas da casa, como parte da memória dos tijolos que o abrigaram enquanto caprichosamente garimpava palavras, reforçando “o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres”.
Entrando na Casa de Fernando Pessoa, me senti efetivamente recebida ao me deparar com a minha frase favorita do escritor: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Um mar de possibilidades se estendeu pelos pavimentos a percorrer. Comecei por cima, para ir descendo devagar, sem esforço, observando imagens do autor e lendo extratos de textos que convidam a pensar, muitos assinados por heterônimos, como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Quarto pavimento: Sonhatório. Lugar para deixar a imaginação voar nas mídias interativas. A biblioteca do autor se abre ao toque. Numa sala escura as assinaturas se sucedem nas paredes, enquanto textos breves são relembrados em muitos idiomas e sotaques. Em outro canto, Maria Betânia e Cleonice Berardinelli fazem uma leitura dramática durante a Flip. Mais adiante, artistas de várias nacionalidades interpretam textos memoráveis. As vozes se interpenetram, se completam.
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Terceiro pavimento: auditório austero, os poucos livros publicados por Fernando Pessoa se destacam ao fundo.
Segundo andar: o quarto do autor. Pequeno. Uma cama de madeira, uma cômoda e sua máquina de escrever em destaque, numa redoma. Além disso, um grande vazio cheio de silencio. “Existe no silêncio uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta”. Parei em frente à janela, repentinamente consciente que ele inúmeras vezes estivera exatamente ali. Assim provavelmente viu algo muito parecido com o que eu estava vendo: as casas do outro lado, talvez em outra cor ou com leves alterações, mas certamente aquela mesma imagem. Emoção real.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Térreo: a biblioteca aberta ao público e a lojinha de souvenires. Atrás, no quintal, um bistrô: Flagrante Delitro. Na frente, ao atravessar a rua, outro restaurante com nome inspirado: Desassossego. Portanto, seguindo o conselho do autor: “Boa é a vida, mas melhor é o vinho”.
Sai com saudade, misturada àquelas paredes está a minha memória, a própria vida. A Casa de Fernando Pessoa é um lugar para voltar com muito tempo, para curtir detalhes.
Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Link oficial da Casa de Fernando Pessoa: http://www.casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
Continue organizando sua viagem:
- Encontre o hotel perfeito para a sua viagem
- Não corra riscos e contrate um seguro de viagem
- Ganhe tempo e garanta seu ingresso antecipado para algumas das atrações mais concorridas do seu destino
- Vai precisar de carro? Compare as empresas de aluguel de carro disponíveis no mercado